A Geração Brasília foi responsável por uma mudança de rumo no Rock Brasil dos Anos 80. A etapa inicial, de letras ingênuas, deu lugar a uma fase politizada em que os jovens criados sob o manto férreo da ditadura botaram para fora sua revolta. Do centro do poder veio o desabafo através das canções da Legião Urbana e da Plebe Rude.
Em 1985, a Plebe lançou seu EP Manifesto O Concreto Já Rachou, produzido por Herbert Vianna, como um dos melhores discos de estréia de uma banda brasileira. Nas sete músicas, o pau comia para todo o lado e o público respondeu com uma vendagem superior a 300 mil cópias. Era o início de uma trajetória que traria a banda para o momento atual, a comemoração dos 25 anos de seu primeiro disco com o CD e DVD Rachando Concreto Ao Vivo.
A presença de Clemente, líder da seminal banda punk paulista Inocentes, criou uma aliança entre as duas vertentes mais importantes do rock politizado brasileiro. O encontro foi em 2003 num tributo à banda punk inglesa The Clash, o que levou Clemente a entrar para a Plebe no ano seguinte. Philippe Seabra e André X, os remanescentes da formação original, convidaram então o baterista Txotxa, ex-Maskavo Roots, para completar a formação atual.
A Plebe Rude é a única banda de ponta de sua geração que nunca gravou músicas românticas. Seus temas apontam para as incertezas políticas do país desde os estertores da ditadura até a atualidade e para o comportamento do ser humano em meio às dificuldades da vida. A Plebe surgiu da Turma da Colina numa época em que a polícia invadia a universidade para bater em estudantes e professores, em que a censura proibia canções e vetava sua execução pública. Isso na área da música popular, sem contar a perseguição ao teatro e à imprensa.
Sem fazer concessões, a Plebe Rude vendeu 500 mil cópias de seus seis discos, tocou no rádio e se apresentou na televisão. Agora é a vez de lançar seu primeiro DVD com um resumo da carreira bem sucedida mais a inédita Tudo Que Poderia Ser e duas homenagens importantes: Medo, do grupo punk paulista Cólera, do impactante refrão "Eles te dão a mão só pra empurrar" e Luzes, uma linda canção sobre iniciação sexual ("Nos seus sonhos tudo era perfeito/Rodolfo Valentino não faria melhor").
O DVD foi gravado ao ar livre, em alta definição, no dia 12 de setembro de 2010 na Ermida Dom Bosco, às margens da bela paisagem do Lago Paranapoá com o Congresso Nacional ao fundo. A direção é de Rodrigo Ginaetto, a produção musical de Philippe. A mixagem é do produtor americano Kyle Kelsoe a masterização de Mathew Agoglia do Masterdisk, Nova Iorque.
A abertura é impactante, imagens da paisagem privilegiada e do azul profundo do céu da cidade ao som das gaitas de fole pré-gravadas que abrem O Que Se Faz com o alerta "Estamos no seu rastro, aqui se paga todo o mal que se faz". Início de uma saraivada de rocks certeiros com participação entusiasmada da platéia: Censura ("Unidade repressora oficial, a censura, única entidade que ninguém censura"), Pressão Social ("Eu tenho que conformar, eu tenho que rebelar. E quem conforma o sistema engole, quem rebela o sistema come"); Discórdia ("Escolhas as armas e seu lado, raiva mostra a direção. Eu me rendo à falta de opção"). E assim vai num retrato duro de uma sociedade corroída pela corrupção e pelo descaso com seu povo.
Nos Extras, uma entrevista da Plebe sobre a banda e o DVD e quatro clipes. A polêmica Vote em Branco deu até cadeia para os plebeus. R Ao Contrário mistura ação com desenhos. The Wake, versão para o inglês de A Ida, é da trilha do filme Federal. O Que Se Faz é gravado na torre de TV de Brasília e mostra estatística arrepiante: 3 mil pessoas já se jogaram lá de cima.
Mistura de consciência social e política com excelente roquenrol, Rachando Concreto Ao Vivo representa o poderio certeiro e a constante relevância do Rock de Brasília.
Jamari França, 2011
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